Nossa primeira anta!

Por Danielle Moreira

Antes de trabalhar para o Pró-Tapir, eu nunca tinha passado pela experiência de ver uma anta de perto. Nem em zoológicos e muito menos na natureza. Mesmo tendo morado na roça durante toda minha infância, as antas já não eram mais comuns no meu município (Aracruz, ES). E hoje, elas estão extintas por lá. Talvez elas já estavam extintas durante minha infância…Então, imaginem minha ansiedade em ver uma anta na natureza! E foi com esse espírito que parti para os meus primeiros campos em busca das antas, ou pelo menos dos vestígios deixados por elas.

Na Reserva Biológica Córrego do Veado, no município de Pinheiros, ES, conseguimos encontrar bastante vestígios na nossa primeira campanha, como fezes, pegadas e troncos roídos. Tivemos várias “emoções” por lá – meu tornozelo torceu por causa da bota nova de campo e tive que andar 7 km assim mesmo, com a ajuda de um cajado; nossa querida Andressa foi atacada por vespas; e outros de nossa equipe tiveram infestações de carrapatos. Porém, não tivemos sorte de encontrar a bendita da anta.

Equipe do Pró-tapir

Nas nossas duas primeiras campanhas, sempre íamos para a Rebio Córrego do Veado primeiro e depois para a RPPN. Mas na nossa terceira campanha, mudamos a ordem, e partimos primeiro para a RPPN Recanto das Antas, no município de Linhares, ES, e… ainda ansiosos por encontrar nossa primeira anta! Para fazer o campo na RPPN, nossa base ficava na Rebio de Sooretama, uns 30 km da RPPN, onde dormíamos e planejávamos nosso campo do dia. Fomos sempre bem acolhidos pelo pessoal da Rebio de Sooretama durante todo o período que permanecemos por lá.

Nossos primeiros campos na RPPN foram emocionantes, porém, cansativos. Acordávamos por volta das 6 horas e ficávamos na RPPN até umas 17:00, reconhecendo a área e procurando por vestígios. Pode parecer pouco, mas andar debaixo de um sol escaldante de janeiro, fevereiro e março não é nada fácil. Tínhamos que lutar contra o calor, o cansaço, atolamentos em lama tentando apanhar uma amostra de fezes (não é Igor??), os carrapatos e as dores no corpo. E ainda em alguns dias fizemos campo noturno! Nesses dias ficávamos até umas 21-22:00 no campo.

Igor tentando não ficar atolado enquanto procurava por vestígios de antas.
Igor tentando não ficar atolado enquanto procurava por vestígios de antas.

Mas tivemos nossas recompensas! No nosso primeiro campo, em um única estrada conseguimos avistar vários animais, como um grupo de quatis, macacos-prego, dois veados (mãe e filhote) e dois jabutis. Ainda encontramos um gambá atropelado. Andressa foi a sortuda a ver a primeira anta da equipe, mas o grupo como um todo, ainda não havia passado por essa experiência. No segundo campo, já tínhamos uma ideia onde encontrar os vestígios de antas. Coletávamos tudo o que víamos. Também observávamos pegadas delas pelas as estradas da RPPN. Essas pegadas saíam da mata para o eucaliptal ou vice-versa. Uma interessante observação que permitiu que publicássemos um artigo na revista Tapir Conservation! (http://www.tapirs.org/Downloads/newsletters/TC_2011_DV_10-01-2012final_web.pdf)

Até que no dia 02 de abril de 2011 toda a equipe pôde finalmente visualizar uma anta! Era o último dia de campo na RPPN e já estávamos sem esperanças. O segurança da RPPN, Jamilton, havia nos prometido uma anta naquele dia. Ele não se conformava que a equipe não havia observado esse animal na RPPN ainda. Então, antes de irmos embora, decidimos fazer uma pequena ronda em uma área que íamos pouco e que chamávamos de “Alta Tensão” (hoje, é uma das nossas principais áreas para fazer rondas). De repente, Jamilton grita “OLHA LÁ UMA ANTA”. Achávamos que era brincadeira, mas não! Ela estava mesmo lá!

Nossa primeira anta!
Uma foto da nossa primeira visualização de anta.

Todos ficaram desesperados para sair do carro e olhar para o eucalipto onde ela estava parada, a alguns pés de eucalipto na frente. Fui uma das últimas a sair do carro, tentando tirar a câmera guardada na bolsa. Enquanto isso, a Luana saiu desesperada para bater a foto, mas esqueceu de levar a câmera. Apesar de nossa euforia, conseguimos bater uma foto boa e fazer dois vídeos. Eita, que povo bom de câmera! Apesar dos barulhinhos que fizemos e dela ter percebido nossa presença, ela ainda ficou um tempinho parada, avaliando a situação. Logo depois que começamos a filmar, um barulho de galho caindo a assustou e fez que ela corresse para dentro do eucalipto.

Mas não importava mais! Todos estavam felizes com a experiência. Começamos a pular e fazer dancinhas malucas para comemorar. E se você estivesse lá, garanto, não importa o quão sério você é…você faria a mesma dancinha conosco!

10 comentários em “Nossa primeira anta!”

      1. Emocionante ler seu texto, Dani! Me faz lembrar também da primeira vez que vi essa coisa linda, inclusive, com vocês! Foi uma experiência incrível, com pessoas maravilhosas.. Digno de dancinhas malucas com o grupo! Rsrs… Vai ficar guardado na memória!

        Beijos

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  1. Um dia ainda vou passar por essa experiência 🙂 muito legal o relato, Dani! Temos que humanizar mais a pesquisa científica e compartilhar a beleza de estar em campo mesmo! beijos a todos da equipe!

    Curtido por 2 pessoas

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